quinta-feira, agosto 31, 2017

Gostava de ter a arder na minha mão, o resultado da faísca que aciona a ignição do fascínio das coisas que não entendemos, para que pelo menos assim, o olhar se verga-se perante o deslumbramento das cores desse fogo que toma conta de nós e assim ficar a conversar sem falar, de dentro para dentro, enquanto ouvimos a noite respirar.
 
Agosto 2017

quinta-feira, agosto 24, 2017

É das sombras que nasce a luz assim como é do infinito que nasce o amor, esse fervilhar que destabiliza com a suavidade de quem conquista um ponto alto e nos deixa ter uma visão generosa da vida, essa tela tantas vezes pintada com a subjetividade da alma com que nos entregamos a alguém.
 
 
Janeiro 2017
Agora que o sol se pôs, vou levar-te para um voo noturno, para conheceres outros mares revoltos, para lá da orla da Terra, sobre a influência de outra Lua.
 
Janeiro 2017
Sonhar como se fosse eterno é a aspiração natural de quem sabe que pode expirar amanhã! A condição natural do Homem, permite-lhe escolher os seus momentos de felicidade como nenhum outro ser vivo. Veja-se o caso dos peixes, deslumbrantemente mais bonitos quanto exóticos, que ao viverem na água, não detêm a escolha do que são!
 
Janeiro 2017
Partes como quem se despede num cais ferroviário, deixando ficar o perfume de uma tarde cheia de beleza de coisas simples, algures onde o mar não sonha chegar e ainda assim a maresia nos cola ao rosto.
 
Janeiro 2017
A carruagem tórpida pela fúria da velocidade que leva e o corpo relaxa e embala na despreocupação, de quem inicia uma longa viagem.
Quando o estado de vigília recupera a consciência e os sentidos se restabelecem, abandono a máquina que reduz a noção da unidade de medida do tempo e despeço-me silenciosamente de ti, ao saber que onde quer que estejas, recebes a ressonância do meu respirar.
 
 
Janeiro 2017
As abelhas não retiram pólen de todas as flores e as estrelas nunca deixam de brilhar onde a noite habita.

Fevereiro 2017
A luz não tardava a nascer quando os raios da bicicleta iniciaram a sua rotação debaixo de uma abundante chuva que chamava todos os sapos e rãs ás largas poças de água que acompanhavam a estrada. A entrada na Capital permitiu o acesso à perspetiva singular de um dia não útil a caminho do mar, ao chegar a ele deliciei-me com o seu estado revolto com intentos de rebeldia, projetando ondas para cá do muro que nos separava. Era lúcido e denso o tom cinzento do postigo que cobria ...todo o horizonte, com as gaivotas à boleia do vento, estacionavam-se por cima de nós, sustendo abertas as aveludadas asas fazendo lembrar um anjo que nos vigia. A intensa chuva não mais tinha intervalado de cair sobre tudo o que por baixo de si existia provocando a purificação do corpo que lutava por se manter vigoroso no seu objetivo, numa rota do mar para a serra, que se concluiu com 101k de gratidão.
Quis o acaso esperar-me no momento da chegada, um gesto terno que personificou o abraço de quem aguarda saber da nossa ausência.
 
Fevereiro 2017
Juntando os cinco sentidos nas palmas das mãos, fechamo-las sem agitar muito e ao abri-las de novo, temos duas chaves e uma única porta numa perfeita combinação, para o acesso a um estado de emoções a sorrirmos devorarmos o mundo num abraço prolongado.
 
Fevereiro 2017
A tímida luz que descia dos céus ao bocejar do dia, criava um amplo espelho na barragem que serve a Neverland, uma brisa gelada esvoaçava por entre as copas das longínquas árvores que convidava a incendiar o corpo na agitação do movimento. Ao atravessar a Neverland, pude assistir à pureza da cumplicidade de todos os estados de vida que por ali coexistem, para lá da memória do tempo dos Homens. E ao chegar à sua mais distante fronteira, o infindo mar deslumbra-nos como a uma criança que o vê pela primeira vez e ali fiquei no topo de um dos rochedos que vigia a praia assente no liquido azul, a desfrutar da bravura do vento que trás as ondas até esta enseada. No regresso com a consciência já extinguida, não dei pela distância que percorrera.
 
Fevereiro 2017
Só o que consegue nos tocar por dentro, fomenta saudade, esse apelo dos sentidos, mensageiros da alma, que vasculham o cosmos em busca do que a suavize

Fevereiro 2017
O olhar é provavelmente o gesto que a pare do abraço, nos convida a prolongar por mais tempo.
Se o primeiro mantém a memória viva e desafia a criatividade, já o segundo permite a unificação dos afetos num desfrutar até à eternidade do calor das afinidades.
 
Fevereiro 2017
Pouco importa tudo o que não entendo, o que fascina mesmo é não esquecer o perfume da Primavera que tomou conta de mim e das cores que um voo nas asas de uma borboleta permite lograr.
Ahahh, como é doce não recear a chegada de uma trovoada, se de mão dada tiver com as sementes da alegria entregues ao vento de nortada.
 
Fevereiro 2017
Enquanto percorria a marginal de olhar preso na desmesurada janela sobre o mar, pareceu-me ver-te! Mas não eras Tu, em teu lugar uma onda caminhava para a praia com uma doce espuma na crista, a fazer lembrar o teu cabelo... e as gaivotas a surfar no vento, reconheço sempre este vento, quando visito este lugar com os pescadores esquecidos de renovar o isco no anzol, porque
imagino que o seu desejo não é deixar o mar mais pobre de peixe, mas sim assistir à luta deles, para depois os devolver ao imenso azul. Depois e sem que pudesse evita-lo, subo a Estrada da Serra e em cada cruzamento de trilhos, as mesmas vozes de sempre, que ali moram,a chamarem num apelo a mergulhar no verde como quem entra num oceano, para uma viagem demorada.
 
Fevereiro 2017
Há dias em que a necessidade de falar, é naturalmente suprimida pela magia do olhar, que diz coisas que o verbo não se atreve, pelo cheiro, que tem tanto de intenso e preciso como um código de barras e pelo sentir, esse astrolábio que nos permite navegar na escuridão do entendimento.
 
Fevereiro 2017
Há momentos assim, perfumados, intensos e de excelente companhia. Querem-se na posse de inquietude, como o fogo a crepitar numa lareira, ciumento do calor do cobertor, que desfruta sentado do prazer do dono há muito em si enrolado, em conversas soltas em busca da natureza do desígnio da vida, que seria tão simples que residisse no palpitar de um bater de asas.

Fevereiro 2017
O tempo passa, voraz como um comboio que não reconhece estações nem apeadeiros!

Março 2017
O inverno despede-se num choro miudinho de criança, sobre um telhado que deixa ver um rio que não conseguiria viver sem a sua ponte, do mesmo modo que toda a organização do universo, parece não interferir no comportamento dos Homens, na forma como manuseiam as suas paixões, essa corrente que existe dentro dos Homens, que agita a sua bondade e apetite e que se alimenta com a naturalidade com que a água surge para quem tem sede. E no entanto tudo isto se passa ao nível do olhar..., ou não fosse o olhar quem se revela antes de tudo, por ser a única entrada para o sótão do nosso espírito, esse T0 onde as ressonâncias dos dias se alojam em busca de matrizes que abram o nosso cofre, para que possamos viver uma vida plena ao ponto de existirmos despreocupados se o mundo parar de rodar. As telhas do telhado que vive com o rio e a sua ponte no horizonte, alerta-me para a chegada da decadência do dia e é então quando peço à Lua, para ficar comigo enquanto a Estrela não chega.

Março 2017
São poucas as coisas que conseguem ser homogenias, ao ser igual de um lado a outro, como uma parede deitada, que tantas vezes nos acalma enquanto remexemos de dedos descalços, a areia que ele amplo guarda. Seu nome?, Mar, esse elemento que nunca se deixa fotografar por inteiro, como um coração que não se vê bater e que ao ser também um ruido da natureza, sabemos existir para lá da compreensão da estrada do conhecimento.

Março 2017
Fui, vim, levei-te e regressaste comigo.
Na soma dos kms, entre a ascensão à Serra e o regresso ao Planalto, os sentidos foram desfrutando do aroma e detalhes de Ti, entre a mesa da memória e os corredores onde os sentimentos se temperam, naquilo que os olhos admiram perante a beleza do pulsar da vida. Corrias qual criança livre das preocupações do mundo dos crescidos e davas-me a mão nas subidas ingremes e nas descidas travessas, em sinónimo de confiança e cumplicidade, que tanto valorizo e cuido. Ali, onde o azul se funde com o verde e branco, o teu sorriso era permanente como se a felicidade não fosse mutável e ao ver-te assim, todo eu irradiava paixão, pelo brilho que a tua alma exaltava.
 
Março 2017
Sempre admirei mais as flores do campo, são selvagemente mais genuínas e possuidoras de uma alma inquieta, como o vento que as sacode numa pradaria.

Março 2017

quarta-feira, agosto 23, 2017

Na tarde do presente, não subir à Serra seria equivalente a estar no Funchal na noite de réveillon e adormecer antes de nos deixarmos deslumbrar com o fogo-de-artifício.
Sentia-se na humidade do ar, o choro de alegria das Almas que se tinham libertado das amarras da sua missão terrena e recebiam as suas asas de anjo, numa bruma que nos abraçava, enquanto os Druidas de braços abertos liam cifras de ressurreição.
 
Março 2017
Retalhos de um grito do centro de mim, ao assistir à morte da ambiguidade do presente!
O Piódão parece ficar tão longe para quem procura chegar de carro, como para quem se propõem chegar a correr num raio de 50k e nesta segunda escolha a viagem é um jogo de desvendamento e esquecimento, no equilíbrio contemplativo dos olhos da alma, onde a única forma de temporalidade é não querer chegar antes do tempo que a Montanha decidiu ser o necessário para que esta nos aceite como fazendo parte dela. O dia nasce com um jorro de perseverança que nos atira para profusões de verde e águas cristalinas que se despenham de cascatas, que delas ao beber sentimos estados de jubilidade atómica, com humildes olhares para o topo de cada cume, onde ao conquista-los interrogo-me de como as nuvens conseguem fazer sombra na incomensurável Montanha, para nas descidas no vale soltar ao vento os ruídos do pensamento e mergulhar na concentração do vazio, como forma de uma fusão a fio do nada que são as coisas que compreendemos e não nos fascinam. Este teatro em altitude e as horas que percorremos nele, convida a despejar como de uma gaveta se tratasse, tudo o que não tem sentido de existir no tempero dos dias.
Mas há o antes disto tudo, que é a aceitação do risco da mudança!
 
Abril 2017
O Sábado de Aleluia viria a revelar-se um magnificente dia para deixar-me perder por entre as construções rochosas do Caramulo.
Cheguei um pouco antes da hora acordada e escolhi um rochedo de vista privilegiada para o vale que estava sob o efeito de um total teto falso de neblina. Puxei os joelhos ao peito e ali fiquei uns instantes suspenso no inebriar da madrugada com as aves a debitar chilreares balsâmicos.
À hora combinada a Aurora, a mãe de todos os despertares, revele-se na quebra da escuridão e assiste-se ao esplendor do nascer do dia, é então quando rumo em busca do núcleo do Caramulo. Até à chegada ao Caramulinho (1.076m) escalou-se mais do que se correu. O que se seguiu ficou embargado na memória...
 
Abril 2017
Psiuu!!!
Entra e encosta a porta, deixa somente uma frecha, para que uma lamina de luz não nos deixe tomados pelo pleno das sombras, enquanto os cortinados dançam com o sopro da madrugada.
 
Abril 2017
Evento astronômico que ocorre durante os estágios finais da evolução de algumas estrelas, que é caracterizado por uma explosão muito brilhante. Por um curto espaço de tempo, isto causa um efeito similar ao surgimento de uma estrela nova, antes de desaparecer lentamente ao longo de várias semanas ou meses.
Em apenas alguns dias o seu brilho pode intensificar-se em 1 bilhão de vezes a partir de seu estado original, tornando a estrela tão brilhante quanto uma galáxia, mas, com o passar do tempo, sua temperatura e brilho diminuem lentamente.
Tão lentamente que na escala de tempo do Homem, toda a sua intensidade permanecerá entre nós.
 
Abril 2017
Há lugares que nos viciam como se fossem pessoas, apenas lhes faltam a afinidade de um abraço, a doçura do olhar, a vibração de um beijo e a cumplicidade na atitude.
Manhã primorosa, ainda a tempo de apanhar uma valente chuvada, antes de assistir à dissipação de uma depressão frontal, que recriou um novo amanhecer, pela força com que a luz rompeu de mar para terra.
 
Abril 2017
Refestelado numa chess long numa inspiração de dolce far niente, fotografo as mutações camaleónicas projetadas no horizonte, pela condição atmosférica, diante da única coisa que conhecemos que nunca se deixa fotografar por completo, o Mar, esse reconciliador que nunca nos impõem tempos de espera, sempre que desejamos falar para ele.
E de pés nus, desfruto do serpentear de Zéfiro por entre os dedos, enquanto um navio ao longe fuma sem as preocupações que consumem a vida humana, permitindo saber que não está estacionado como eu, a pintar uma tela, onde o amor é luz em línguas de fogo.
 
Abril 2017
Porque o Preto e Branco deixa ver o que as restantes cores não realçam!

Abril 2017
..quer quando deixas soar a alegria, quer quando mergulhas na escuridão da tristeza, à semelhança da luminosidade do azul e do ardor que este ganha à exposição da luz artificial da madrugada.
 
Maio 2017

terça-feira, agosto 22, 2017

Por vezes esperamos demasiado dos outros, nomeadamente quando eles (os outros) vivem num período temporal diferente do nosso. Pouco importa qual é o tempo certo, até porque não é possível com exatidão saber, o que importa, é que essas duas pessoas não conseguiram nunca estabelecer um nível de comunicação que as faça sentir-se próximas, o tempo decorre e só nos resta seguir em frente e resistir sem olhar para trás, para que as vivências do passado, não comprometam o que nos espera mais à frente. É como dizer adeus a quem nunca vi.
 
Agosto 2017

sexta-feira, agosto 18, 2017

Estacionado na esquina do tempo, escuto o silêncio do cheiro que transporto comigo, cujo o passar das horas não o consumi-o, ao ser oriundo de uma espécie de flor, que vive na vertigem de uma encosta voltada para o azul do mar.
 
Maio 2017
E de malas feitas, com quase nada lá dentro, por quase nada ser necessário levar para onde vamos, corremos de mãos dadas a sentir o vento em contra mão, de coração solto como um bater de asas de uma andorinha que migra de encontro ao calor que a alimenta por dentro. Olhamo-nos enquanto o infinito se aproxima de nós e quando inesperadamente paro e nos abraçamos, há uma corrente de ar quente que se intervala entre nós, como um arrepio que invade um corpo desnudado, ao receber o toque de um beijo.

Maio 2017
Para os momentos em que a tua alma pede que a eleve com uma canção esvoaçante, onde a letra fala do modo como transformo os momentos baixos em altos num qualquer lugar onde toda a atmosfera se enche da alegria das borboletas e do eco de uma maré distante.

Junho 2017
Depois de um breve instante, damos conta que o tempo voa e o pequeno pedaço de ti que a vida oferece é perfeito em sabor...

Junho 2017
Podia ter sido uma longa tarde nos braços do mar, ainda me senti entrar com a sua água até à cintura, mas o instinto não me deixou avançar, o mesmo instinto que nos guia como um faroleiro que não dorme, quando a realidade não projeta opções que deixem a razão comandar. Mas fiquei ali, a admirá-lo em apoteoses de revolta, com o vento a beneficiar que a sua maresia batiza-se a minha presença, em equilíbrio nas rochas que vivem com a ilusão que o conseguem acalmar. Senti que o mar estava com o coração em chamas e só com amor se consegue acalmar um coração assim, algo que imagino que apenas a lua e as estrelas conseguirão fazer.
 
Junho 2017
Sempre quis abrir uma ostra e encontrar o sorriso de uma pérola, que contivesse toda a luz do universo num olhar arqueado, próprio de quem jorra felicidade numa manifestação pura e imparcial como a vida. Logo, depois do calor esmorecer, voltarei ao mar nessa busca incessante de quem escreve, risca e deita fora, até encontrar o equilíbrio perfeito das palavras.
 
Junho 2017
Noites brancas são noites de Rock ´n´ Roll, para os seres alados que somente se revelam na chegada das asas da noite, atraídos pelo calor e intensidade da lanterna frontal que guia-me pela memória do que está para ser.
 
Junho 2017
Estados de adição de adrenalina, são como as grandes histórias de amor, temos que os viver como combustível que arde e nos gera arrepios na alma e nos deixa o corpo embriagado de um prazer que a razão não sente necessidade de processar.

Junho 2017
Ainda não eram 6h quando fui ao encontro da Cruz Alta, para assistir ao júbilo do amanhecer. E ali fiquei à chegada de braços abertos para receber os primeiros raios de Sol, que demoram apenas 7 minutos a chegar à Terra.
Do outro lado da Serra de Sintra a Praia da Ursa, sabia da minha visita e aguardava-me com imagens de si, que surpreendem sempre, como o beijo de quem nos apaixona e do qual não há forma de ter um backup.
 
Junho 2017
Hoje o pôr do sol deixou o mar em chamas enquanto trazia a tua voz a galope do vento na formação das ondas que ao chegarem à costa deixavam as praias com destroços do que tentou romper a tua felicidade.
Já as pujantes estrelas desafiavam o véu negro da noite e ainda estávamos de costas deitadas, abraçados na forma de um agasalho, a respirar para dentro do nosso olhar, como quem quer manter um sonho vivo.
 
Junho 2017
Cá de cima avista-se o infinito, com o azul índigo que só o oceano consegue dar vida, a adornar os colossais rochedos que emergem de si, como se fossem deuses de braços abertos a acolher a finitude da sua criação humana.
O vale acidentado que conduz a este santuário, permite descer na posse de uma naif alegria a fazer acreditar que chegado a ele, será oferecida a visão que iluminará os passos do amanhã e o clarão de luz para a eternidade do caminho a percorrer.
Quando por fim se pisa o pó do mar, tomamos consciência de que todas as respostas que aguardávamos, se decompõem na falência das perguntas e o brilho da juventude atira-me para fora da temerosa escuridão das duvidas, também elas um artificio do criador, quando estamos perante um novo desafio!
 
Julho 2017
Tudo o que é agora,
Tudo o que já passou,
Tudo o que virá,
E tudo sob o sol está em perfeita sintonia e se o sol não surgir, teremos as estrelas, porque essas não estão nunca sujeitas à mudança das estações ao longo do ano!

Julho 2017
43k apenas para ir ver o mar e as suas gaivotas, num local para lá dos ecos da Assafora, onde chagado aqui os olhos apreendem a razão de o mar só poder ser azul na proporção da paixão ser vermelha e a morte negro. O infinito enceta-se aqui rumo ás camadas superiores da atmosfera, num fluído cósmico condutor da luz e do calor pelo espaço, no qual a unidade de tempo nos pode oferecer a imortalidade, porque com ela poderei para sempre sentir o coração agitado contigo.
 
Julho 2017
Vim até aqui à procura de saciar-me do silêncio, que decorre do disparo de um projétil, numa explosão de cor pirotécnica na tela negra da noite, com os olhos a deslumbrarem a alma no envio sináptico de mensagens de paz e dou comigo a sentir um denso estado de felicidade, equivalente a um tremor de terra por entre a pele.

Julho 2017
Desde todo o sempre, uma boa história inicia-se por "Era uma vez"... não creio que a minha história sobre a minha passagem pelo Eiger Ultra Trail, reúna esse predicado, mas reúne com toda a certeza dos mais fantásticos momentos que tive de gratidão à Vida, esse fenómeno que todos nós procuramos interpretar de forma a que a nossa alma nos diga onde e com quem queremos estar. Quando ocorre essa tomada de consciência, percebemos o fascínio de como é possível que apenas a suavidade gasosa das nuvens consegue fazer sombra a uma montanha, a montanha que nos permite viajar dentro dela, como dois corpos que se entregam ao amor, para que a nossa mente dilacere todas as nossas quimeras e assim sejamos livres.
Há o antes disto tudo, mas isso fica para outro dia.
 
Julho 2017
Desde miúdo que aprecio chegar à praia com ela ainda encerrada, faz-me lembrar os hipermercados quando abrem as portas em dias de ausência de campanhas, respira-se e ouve-se os elementos. Por maioria de razão, hoje a praia era das gaivotas... milhares... com algumas, poucas a exibirem voos estilo Clff Diving, junto ás redes de uma traineira, um gracioso espetáculo. No palco onde toda esta ação decorre, enquanto corro de olhos fechados a cheirar o vento, o mar estava amuado, tendo-se deixado ficar no seu ponto mais distante das dunas, com as suas ondas em exercícios de alongamentos em baixa-mar, em apelos a mergulhar no azul tíbio, pelo calor que a atmosfera libertava no acender do dia.
 
Julho 2017
Não há forma de sair de lugar algum, quando ficamos para sempre, como um casaco quente que aconchega as frescas noites em que deitados lado a lado, entre a lua e a maré, sentindo o calor das caricias, enquanto a noite nos cerca.

Julho 2017
Procura-se o cheiro da verdade, no brilho de uma pedra preciosa, deslizando pela areia molhada sentindo a inundação do mar, num fim de tarde atraído pela imagem dos pássaros a alcançar o céu, esse lugar perfeito, para nos largarmos de braços abertos a viver o medo do avesso no ato de reiniciar tudo o que nos aguarda lá em baixo, ou não fosse esta, uma missão de prazeres, num exercício de escolha do que tem lugar cativo dentro de nós, com a convicção do navio que se afasta e nos deixou no cais.
 
Julho 2017
O mar junto ao Guincho tem dias em que não quer estar com ninguém. É nestes dias que resistir-lhe se impõem e como se isso não bastasse, o vento divertisse com as dunas de areia, desfigurando-as e arrastando-as pelo ar, criando uma atmosfera de dióxido de silício, que fazem de uma manhã, um momento privado de monotonia. A viagem prossegue para norte, em busca de um lugar que ofereça tal como um sino que chama os fieis, o encanto suave das suas palavras. E não muito longe dali, igualmente azul nos dois sentidos de um plano vertical, igualmente revolto mas não indomável, um lugar vazio e tão cheio de tudo, onde os olhos se fecham e se escuta os diálogos do passado.

Agosto 2017
Assim que o Rei de todos os astros conhecidos emergiu no horizonte, deu-se o inicio da fuga à perseguição de calor que aí vinha. Entro sorrateiro para poder vê-la acordar, como guardo em sonhos, um pequeno tesouro guardado no dorso de Figueira Castelo Rodrigo, onde ao penetra-la sentimos vontade de nos perder, pelos seus trilhos encruzilhados, onde tantas vezes bandos de perdizes, se lançam no céu num bailado de deserção. Densa, rochosa e de vales acentuados, a Serra da Marofa, viria proporcionar uma manhã com a dose certa de felicidade, de uma beleza equiparada à neve derretida, ao ser como o perfume que desce pelo teu corpo, ao deixar um rasto de desejo em lhe tocar e ali ficar entregue aos sons que o prazer gera.

Agosto 2017
Gostava de levar-te pela mão  para nos perdermos, em paisagens como esta. Adorava ver-te, estar contigo num espaço aberto, para assistir ao positivo efeito da luz do sol, no teu corpo, num relato fiel do que estaria a sentir a tua alma. Por beijar-te, tocar-te, encher-te de prazer sensorial até pedires que para-se e ai por instantes, iria saborear o teu sorriso e os arrepios que libertas.

Agosto 2017
Daqui em diante ficará o Novo Testamento.

Daqui para trás ficou o Velho Testamento.