quinta-feira, outubro 26, 2006

Ao teres um sonho persegue-o de imediato porque se não o fizeres, quando decidires partir vais verificar que é tarde.
O tempo urge em quase tudo o que nos faz sentir vivos e até que ponto não valerá mais, cinco minutos a correr um risco
que encerra em si um sonho, do que uma vida a assistir de longe aos sonhos que não arriscamos querer tocar?

domingo, outubro 15, 2006

A incrível e triste história do suicídio do meu peixe Betta


A existência de animais domésticos nos nossos lares é algo comum e aceite pela generalidade das pessoas.
Enquanto vivi com os meus pais, tal nunca foi possível face à disparidade dos nossos horários que não ajudavam aos cuidados e dedicação que qualquer animal necessita. Ainda foi alguma baba e ranho que minha mãe (linda) teve de suportar, sempre que insistia que queria um bichinho e ela tinha a paciência de tentar sempre que eu compreende-se que não tínhamos condições para levar animais para casa. Os anos passaram e este desejo acabou por ficar guardado, algures numa prateleira esquecida e empoeirada. Um destes dias, quando passeava por um (mais um) centro comercial, deparei-me com uma casa de animais... estava repleta de BICHOS LINDOS. Dei comigo a subir à prateleira empoeirada em busca do esquecido desejo!!!. Entrei e fui de imediato absorvido pelos aquários, repletos de peixes exóticos, lindos, diferentes dos que nos habituamos a ver no prato, já sem alma e configuração de peixe. Para além dos clássicos avisos de "POR FAVOR NÃO MEXER", tinha em cada aquário o nome da espécie dos peixes. E foram os Betta, que me deixaram colado ao vidro com a boca a abrir e a fechar à medida do seu compasso. De repente como que quebrando o hipnotismo que sofri do Betta, solto um "POR FAVOR" e peço à Sra. (amável) que coloque aquele Betta num saco com água, pois era AQUELE que eu queria levar comigo. Assim fui todo contente para casa, com um sorriso palerma no rosto, típico de quem vê realizado um desejo. Já em casa, interroguei-me sobre o que iria servir para aquário do felizardo peixe, que acabava de entrar no meu lar. A Sra. dissera-me que este tipo de peixe não necessita de muito espaço, bem pelo contrário... optei por usar um castiçal, sei que parece esquisito para servir de aquário, mas caso o vissem, concordariam que foi excelente a ideia. E assim foi, coloquei o meu Betta no seu novo aquário em cima da minha mesinha de cabeceira, mais para ele ter companhia durante a noite. Sempre ouvi dizer que os peixes sofrem de insónias!!! Os dias foram correndo e a minha casa ficou mais colorida, com este amigo. Todos os dias de manhã colocava comida para ele, hábitos que rapidamente criamos, sinónimo de afecto. Um dia chego a casa (tinha decorrido 2 semanas) e quando ponho os olhos no aquário, vejo que este estava vazio (??!). Tive um aperto no coração; quem teria vindo a minha casa e só tinha levado o peixe? Aquilo estava a ficar esquisito... de repente quando olho para o chão vejo o Betta deitado. Não entendi, não queria acreditar. Como é que o peixe teria ido ali parar??! Peguei nele e nem tive coragem de lhe fazer um funeral digno (confesso que não sabia muito bem como o fazer). Nos dias seguintes, interroguei-me seriamente a respeito de como teria o Betta morrido. Conclui que foi um acto voluntário: O peixe suicidou-se! Saberia a minha mãe desta possibilidade e quis poupar-me a ela?.


segunda-feira, outubro 09, 2006

A cada toque na embraiagem sou projectado no sentido contrario ao deslumbramento dos meus olhos, com tudo o que os invade. Ao tentar focar algo, as imagens deixam-me ficar para trás, preso num único momento, para logo depois saltar para a dianteira do centro de gravidade desta velocidade escaldante. A trás de nós o túnel de vento, sugere a criação de uma forma alada, vindo em nossa perseguição. A máquina continua a apresentar subida de rotações, não se adivinhando o seu red line. O asfalto escapa-se por debaixo de nós de um modo vertiginoso, começamos a sentir o efeito afunilado da fusão de formas e cores. A musica toca na proporção da adrenalina, que parece ganhar vida fora de nós. Perante falsos obstáculos, rasgamos a estrada de ponta a ponta e elevamo-nos no ar desaparecendo num ponto de luz.

terça-feira, outubro 03, 2006

Já decorre alguns anos que deixei de frequentar a noite Lisboeta. Em meados dos anos 90 saí todas as noites, com especial incidência para a sexta e sábado, onde o rigor no traje era um passaporte para entrar nos locais mais apetecíveis. Do Bairro Alto, passando pelas Docas e acabando em Alcântara, não esquecendo o Príncipe Real, o roteiro da noite era vasto e percorria-se por etapas. Sei que hoje a tradição não está muito longe do que foi, contudo e por força dos tempos as gerações mais recentes, tem outros hábitos, outros gostos. Em suma, outra forma de estar na noite, o que é perfeitamente normal e admissível. O que sempre fez gostar da noite, eram os seus personagens. Gente que após o Sol se pôr se transformava por força da necessidade de encarnar um personagem que só existia no seu imaginário, ou simplesmente não o conseguiam assumir na claridade do dia. Assim, era um desafio analisar todos aqueles, que após alguns breves diálogos e trocar de olhares, percebia pelo comportamento da sua íris as fragilidade que habitavam dentro de si. Conheci gente muito interessante, contudo perdi-lhes o rasto e o que é curioso, é que mesmo que nessa altura nos cruzássemos na rua ou num transporte publico, o mais certo era não nos reconhecermos. Tal eram os adereços que os envolvia. Numa destas noite, conheci uma mulher que se veio a revelar possuidora de um magnetismo muito acima da média. Não porque fosse exuberante ou irresistivelmente bonita. Mas sim detentora de uma energia que desconhecia até aquele momento. Naquela atmosfera ora escaldante ora fria que os vários períodos da noite proporcionam, não tardou que algumas palavras fossem trocadas, o que levou a descobrirmos o fascínio das palavras de um desconhecido. Estes encontros foram acontecendo com casualidade de estarmos no mesmo local à mesma hora, sem marcações prévias. O que ainda tornava mais envolvente uma história cujo começo não tive presente e onde nunca cheguei a perceber se participei dela! Um dia por fim e depois de alguns vodkas, procurei o ar da noite e saí para a rua, caminhei alguns metros e ouvi chamarem por mim. Era ela, cujo nome nunca soube. O seu andar assemelhava-se a um felino, o seu olhar emanava um outro mundo dentro de si e a voz rouca soava por entre os seus longos cabelos pretos, onde as suas palavras chegavam como beijos, causando um efeito de absoluto encantamento. Caminhamos junto ao rio, a brisa fazia com que os nossos cabelos se agitassem, a lua cheia mas encoberta pelas nuvens que visitam Lisboa no fim de Setembro, proporcionava estávamos envolvidos num cenário de fantástico. Com uma rapidez sobrenatural, vejo-me caído no chão com aquele ser em cima de mim, saciando-se com o meu sangue, depois de uma mordida indolor no meu pescoço. Conclui ter perdido os sentidos, quando acordei numa outra rua com um bilhete nas mãos, onde dizia: "depois de hoje, não voltarás a ser o mesmo". No que me terei tornado, se tudo isto não foi uma criação do meu subconsciente?!?

domingo, outubro 01, 2006

Reimund Heiner Müller
(9 de Janeiro de 1929 –
30 de Dezembro de 1995)
foi dramaturgo e escritor alemão.

Heiner Müller iniciou sua carreira literária quando o socialismo estava em construção, na antiga RDA. A obra de Müller, que está em confronto permanente com a teoria e prática de Brecht, permite lançar um olhar novo sobre um autor que também virou um fantasma que assola o teatro. Durante uma espécie de "exílio interior", Müller se deteve na obra do "escrevinhador de peças", depois do qual "[...] muitas coisas não são mais possíveis ou só são possíveis diferentemente". Após uma tentativa de levar adiante o fragmento "Viagens do Deus da Felicidade", Heiner Müller dirá mais tarde que esta empreitada significou para ele uma iluminação sobre a "mudança de função da literatura num período de transição".

"Há uma altura na vida em que os dias se tornam uma sucessão agradável ou desagradável de momentos sem vírgulas, sem pontos e com pouquíssimos espaços entre eles.
É a altura de mudar a direcção do voo."

Heiner Müller