quarta-feira, outubro 31, 2007

A simetria é algo que me apaixona, desde que recordo por alturas de Dezembro, de o Pai Natal se encontrar com o seu trenó de renas inanimadas, nos Restauradores em Lisboa junto ao Restaurante Pinóquio, a alegrar crianças, como eu era então. Já nessa altura ficava vidrado com a forma como o meu Avô Francisco me oferecia uma nota de 500 escudos dobrada no seu ponto de gravidade e me convidava a perceber a meticulosidade com que manobrava duas fileiras de guita que atravessavam o quintal onde cresci de bebé a moço e entravam pela vidraça da sua oficina de sapateiro, rodeado de latas, caixas, calendários com raparigas em topless, dúzias de sapatos e umas quantas gaiolas a aguardar inquilinos voadores, na sábia arte de articular uma rede de apanhar pássaros, salpicada de alpista. Neste Pátio, assisti perdido no tempo, à largada de centenas de pombos do "Tio" Apolinário, que redesenhavam o céu numa coordenação de circo chinês. Antes da Estação de Sta. Apolónia falecer, era ali que vindos da linha de Azambuja chegávamos a Lisboa. A teia de linhas sobrepostas fazia de mim uma criança com muitas perguntas! O cheiro a queimado dos freios era algo que assolava as minhas narinas e ao qual associava o esquecimento de duas frentes de pão torrado esquecido entre a incandescência de uma resistência. Depois veio os discos em 45 rotações sobre os quais uma agulha surfava com a firmeza de um soldado de chumbo, permitindo ouvir rimas que a imortalidade do tempo apagou da memória. Sem duvida, que o soar do uivo do vento por entre as oliveiras nas noites de Inverno, foram durante muito tempo a razão da minha vigília e o motivo pelo qual aprendi muito cedo a sentir o medo do avesso. Ou não fosse este simétrico de si mesmo, na certeza porém de que o que não é igual a si próprio não é autêntico. A autenticidade muitas vezes é um defeito na proporção de quem tem olho em terra de cegos é Rei. Quer uma quer outra, oferecem momentos de contemplação, apesar de a simetria não proporcionar por si só beleza num objecto, quando aliada à autenticidade o deslumbramento pode ocorrer por força da natureza do imaginário.

sábado, outubro 27, 2007


Não entendo como é possível errar tão persistentemente e assumir uma postura tão displicente ao ponto de ficarmos cegos da realidade dos problemas que daí advém para os que nos rodeiam?!? Não recordo alguma vez ter assistido a tamanha ausência de responsabilidade em paralelo com uma tão grande infantilidade que chega a causar pena poder-se viver com toda esta leviandade. A inércia em si mesma é nociva, porém quando aliada ao processo de aprendizagem pode tornar-se numa tragédia! Foi assim neste Verão Azul... Não vou ter lembranças que despertem em mim qualquer tonalidade de saudade!