sexta-feira, abril 13, 2018

O que faço eu aqui com as mãos manchadas pela estagnação do sangue regelado, com o cérebro a agitar-se estrepitosamente, tentando enviar mensagens de calor pelo corpo, no reacender do fogo que deixa os sentidos despertos, com as suas labaredas, a consumirem imagens que decoram os corredores do tempo?
Apenas o arrepio da passagem de um tufão, que nos proporciona uma vaga de prazer, pode atribuir sentido a esta experiencia de liberdade de um nada absoluto, que nos leva a não esquecer como nos envolve, com o branco dos olhos a ganhar espaço em redor da pupila, numa ascensão vagarosa, como uma lágrima de felicidade, que de tão pura nem dói.
 
11 Março 2018
As luzes ao longe começam a diluir-se no crepúsculo que antecede a noite. Há cenários de sombras refletidas nas paredes a configurarem silhuetas que relatam histórias de corpos com harmonia entre as nádegas e as ancas e de cintura nítida, a erguerem-se sem peso no ar. O fim da noite foi sentado descansando o olhar, a ver o sol a nascer no atlântico, com os pés a desenharem círculos, presos ao metal que impõem o ritmo nas rodas, deixando-se ir, aquecidas pela paixão do asfalto.
 
8 Abril 2018
Escuto os teus pensamentos e ainda assim, há coisas que não se entendem, a vitalidade em compreender as conversas inacabadas, não se derrama, pelo contrário, floresce como erva viçosa despois de uma trovoada, fora do seu tempo, que trás consigo a frescura do pensamento das coisas que repetia, uma e outra vez, a desenvolverem-se sem esforço, como o calor que recebemos de outro corpo.
 
13 Abril 2018