sábado, junho 30, 2018

Há horas na vida de um Homem, que se impõem sobreviver a momentos em que nos sentimos eternos, em que o ar entra e sai de nós, sem que seja pela ação do respirar, em obediência a um estado de felicidade que se alastra como o efeito das sombras a dilatar-se no aceder de uma luz, no suspiro de lembranças perdidas que voltam de repente e nos fazem estremecer como quando acordamos com os dedos da chuva a bater no vidro, vindos de um sono profundo, depois de nos termos entregado à... beleza de um ato partilhado. Chegará o dia em que a carruagem os deuses nos chamará desta vida passageira e mergulharemos na eternidade. A única bagagem que levamos, será o cheiro dos abraços que demos e toque das bocas que nos beijaram, porque todo o resto, estará contido nestas duas, como frente e verso do que fizemos, ao deixar-nos memórias de nós no coração dos outros, como o perfume de uma flor que nunca esquece.
 
30 Junho 2018

sábado, junho 23, 2018

O encanto secreto de uma força cega, que habita o nosso mais elevado penhasco interior, vigia-nos sem encontrar repouso na noite, para nos lançar nos limites dos abismos da dor humana e em estados de alma, para os quais orações não serão uteis. O Homem guarda dentro de si, toda a subjetividade que o mundo comporta, porque o peito de cada Homem dilata-se de forma diferenciada, aos temores dos seus hinos. Mas há uma chama, cujo pavio resiste ao vento forte da adversidade do inesperado, daquela quota de que não nos é possível ter controlo e ao nos vemos de cima ara baixo, de joelhos no chão, com a força da gravidade a impedir-nos de nos erguer, os nossos anjos e demónios são chamados a se unir e a percorrem juntos as horas que a noite obscurece, uma mente tomada pela indignação, na falta da independência que o corpo se habituou. E é aqui, que as paixões que nos prendem, vigorosas e viçosas como musgo, nos fazem resistir e acreditar que um episódio não faz dele a história do que somos.
 
23 Junho 2018