sábado, junho 25, 2011


Numa viagem que necessita de pouco mais de 8 minutos, o Sol chega e cobre toda a minha superfície, provocando o efeito de uma brasa incandescente, que esmorece à medida que o dia se consome com o mar sempre a jorrar champagne salgado, sobre um plano inclinado de areia, que acolheu a minha presença, como se eu fosse uma concha sem bivalve. Atrás de mim e na vertical, as escarpas fazem deste lugar uma enseada preenchida de seres voadores, que ocasionalmente proporcionam eclipses solares quando se interpõem entre o sagrado e o profano. Resisto ao fascínio de assistir a toda esta interacção e mantenho-me de olhos fechados, por saber que a luz pode enlouquecer-me e tomo consciência de que para sentir falta de algo, não necessito da evasão da sua presença! Quando a noite caí, faz tempo que estou acordado, desafi-o o sono a não apagar da minha mente tudo o que fiz hoje, para amanhã ter presente o conforto deste lugar.

sábado, junho 04, 2011

Quando o dia boceja num lento acordar, já estou apostos nas trincheiras cuja areia cobre as minhas ensanguentadas feridas, conquistadas sob a voz de comando de generais que acreditam na vitoria com a mesma confiança que não dorme dentro de mim, o que fazem deles líderes como a minha geração necessita saber existir! Alguém deixa escapar uma prece antes da besta dirigir uma nova investida contra os nossos frágeis corpos. Volto a sentir o medo do avesso como no dia em que o meu coração me disse que estava preparado para ser pai e deu-se o desejo ter uma filha com o brilho de uma Supernova… o embate do projéctil deixa-me temporariamente surdo e os meus olhos começam a ter um contacto intermitente com a realidade, à minha volta o vermelho domina e sinto num crescendo as sombras a tomarem conta de mim como um afago e caio sobre os corpos que jazem no chão. Acordo na margem do cais onde desembarcamos para este evento e assisto à minha passagem para casa num duelo balístico, a fazer recordar as longas e quentes discussões de duas pessoas cujo amor perdeu a validade. A bordo e em alto mar, procuro perceber a validade desta estóica obstinação de representar um ideal que não foi uma criação minha! Questiono se ainda serei um espírito livre ou se vivo escravizado de uma sofisticada propaganda que subliminei num período de paz?!? Quero sentir a chave a acomodar-se dentro da fechadura e entrar em casa, seja ela onde for, pois faz tantos anos que não vou a casa, que me esqueci do lugar a que pertenço. Quantos anos passaram se estamos em 2027, desde que te beijei a última vez? Terá a nossa filha conseguido embarcado no projecto de colonização de Andrômeda?! O efeito turbinado da adrenalina começa a abrandar e o lado humano que ainda existe dentro deste corpo que já não me pertence, ajuda-me a recorrer ás memórias do que me prende à vida; à vida; à vida... lanço ao mar a faca da verdade como um grito de ataque, de um escravo que conquista a liberdade.