quinta-feira, agosto 24, 2017

O inverno despede-se num choro miudinho de criança, sobre um telhado que deixa ver um rio que não conseguiria viver sem a sua ponte, do mesmo modo que toda a organização do universo, parece não interferir no comportamento dos Homens, na forma como manuseiam as suas paixões, essa corrente que existe dentro dos Homens, que agita a sua bondade e apetite e que se alimenta com a naturalidade com que a água surge para quem tem sede. E no entanto tudo isto se passa ao nível do olhar..., ou não fosse o olhar quem se revela antes de tudo, por ser a única entrada para o sótão do nosso espírito, esse T0 onde as ressonâncias dos dias se alojam em busca de matrizes que abram o nosso cofre, para que possamos viver uma vida plena ao ponto de existirmos despreocupados se o mundo parar de rodar. As telhas do telhado que vive com o rio e a sua ponte no horizonte, alerta-me para a chegada da decadência do dia e é então quando peço à Lua, para ficar comigo enquanto a Estrela não chega.

Março 2017