domingo, agosto 29, 2010

Existe um demónio que vive dentro de mim, como uma pérola dentro de uma ostra que ganha brilho e tamanho de acordo com a longevidade que vai conquistando nos interstícios do meu ser. Nas últimas décadas tenho vindo a tornar-me uma apetrechada fortaleza, como quem se prepara para a derradeira das guerras e é nesta que acredito, que perante a dança da morte, este mafarrico encontre outro corpo de que se ocupe.
No cume da minha fortificação, vejo ao longe a firmeza titânica com que a estanquicidade de uma barragem se afirma na subida do caudal. Com o mesmo vigor, todo o meu interior procura resistir à libertação em cadeia, da fusão a frio de sentimentos de amor e ódio, gerados pelas batalhas em que proporcionei o derrame da hipocrisia. Sentado no meu baluarte, oiço as narrações da memória da água que percorre o fosso que circunda o maior dos castelos do meu reino. E em todas elas, algo se repete. Muitos tem vivido ao longo dos tempos inconformados com os respeitáveis resultados que a minha perseverança tem conquistado. E se um dia ousarem perguntar a que se deve tamanha convicção, responder-lhe-ei na contrapartida de me darem as respostas para a minha vida bem como as respostas para os meus sonhos.