quinta-feira, agosto 19, 2010

Como o vento semeia as papoilas, inalo a maresia com a suavidade da brisa que projecta a vela da minha embarcação sobre o espelho do Mar. Neste, aventuro-me sozinho por entre mundos que não domino e sei que a minha existência fica à mercê dos caprichos e devaneios de criaturas, para as quais não fui programado as compreender. Não conheço silêncio mais preenchido e auspicioso que o silêncio de Deus. No entanto o silêncio que provoca a ausência de desafios, não é menos arrebatador. O Sol esgueira-se na ranhura do horizonte e com ele corre o postigo que nos deixa na escuridão, que nos predispõem à magia dos sonhos. Faço rodar por entre a minha mão, o puxador da porta da biblioteca que guarda nas estantes, maços de papel humedecido, pelas lágrimas corridas das saudades que o coração exalta, dos que guardam em si a facilidade de provocar a metamorfose do sorriso em gargalhada e de um piscar de olhos, num imenso gesto de ternura. Quando saiu, ao fechar de novo a porta da biblioteca, recebo a violência do clarão de luz do raiar do dia sobre o meus frágeis olhos que procuram concentrar-se nos ponteiros do relógio, que apesar do constante ritmo, a sua frequência cardíaca não sofre oscilações, aos invés das paixões do Homem, que à medida que a sua longevidade avança, toma consciência que a sua maior magnificência, são os abraços que recebe dos que o amam verdadeiramente. E de novo à boleia de um vento nómada, que toma conta do meu rosto, vivo o dilatar das minhas narinas como se este fosse o meu último prazer. Não quero morrer, mas quando o criador da vida morre (O Amor), tudo em volta se perde.