domingo, dezembro 17, 2006


Tributo

A mais remota recordação que tenho data de quando tinha 3 anos de idade. Vivia numas águas furtadas de 3 assoalhadas com os meus pais, estávamos em 1975. Naquela cozinha rectangular, a minha Mãe fritava carapaus e tinha uma travessa coberta de papel pardo sobre o balcão onde os colocava à medida que os retirava do óleo quente... recordo que o meu quarto era do lado oposto da casa, local onde ela se despedia de mim quando me deitava, afagando o meu corpo com um pesado cobertor nas noites de inverno. Por volta de 1976 mudamos de casa, um apartamento 200 metros mais á frente. Foram várias as pessoas que ajudaram na mudança, vejo-me a caminhar lado a lado delas, mas não as consigo reconhecer a esta distância. Esta nova casa um pouco maior, viria a ser o local onde me tornei naquilo que sou hoje para quem me conhece. Foi um longo percurso que a minha Mãe teve de percorrer, um investimento com 100% de risco. Passaram 34 anos onde a nossa cumplicidade foi ficando cada vez mais forte, fruto de muito dialogo, paciência, aposta, carinho e amor. Chegam a existir momentos em que comunicamos por pura telepatia, só quem já viveu uma experiência destas pode entender o que digo, não carece de ser explicado. A força que por vezes o cordão umbilical exerce na relação de Mãe e filho tem consigo algo de cósmico cuja essência vagueia pelo universo de geração em geração.