domingo, dezembro 24, 2006

O final do ano aproxima-se e nada o fará conter a espuma que aguardar o romper das doze badaladas de uma qualquer marca de champagne, para saudar a chegada de mais um ano. Mas antes de sermos projectados no vácuo do tempo entre o ano que acaba e o ano que começa, é tendencioso fazermos uma retrospectiva do ano que finda. Os dias consumiram-se demasiado depressa, ora em alegrias, ora em preocupações. Umas vezes sozinhos outras em plena multidão. O ritmo a que nos habituamos não nos permitiu voltar para nos deliciarmos com aquele momento que até tinha tudo para ser especial. Andamos a viver de menos e gerar riqueza colectiva demais. Este ano assisti a fenómenos sociais, que considero serem indicadores de que a nossa sociedade está a ficar autista. Um desses sintomas é o facto de ter verificado que o número de pessoas que pela manhã opta por vir de transportes públicos para Lisboa, fazem-no com os ouvidos absorvidos pelo MP3 de bolso, cerrado assim qualquer hipótese de diálogo com o desconhecido que vai sentado ao lado. Mais que não seja um simples "desculpe, tem horas por favor?". Outra tendência a que nos estamos a condenar é na partilha dos espaços públicos. O estacionamento selvagem é uma demonstração disso mesmo. Começo a ver cada vez mais carros em cima dos passeios no lugar dos peões. Terá existido alguma alteração ao código da estrada que terei deixado passar em branco?!?. Os exemplos são muitos e tocam nas áreas mais sensíveis desta massa de gente que nos tornamos, mas as situações mais gritantes dão-se quando falamos com alguém ao nível do exercício da nossa actividade profissional, onde como prestador de serviços, constato que o Cliente na posse do seu papel, ignora a necessidade do diálogo e sobrepõem a exigência infundada. E estas situações ocorrem com maior frequência, quanto maior é o grau académico dos intervenientes. O ano foi correndo com a suavidade de uma criança que corre para ser abraçada por quem abre os braços para ela e nesta mistura de furor e paixão, fomos tentando ser o olhar que havia para dar, perante quem guardava de nós uma elevada expectativa. Desperto para o novo ano com o soar do cristal dos copos que se cumprimentam e após um beijo gasoso e adocicado, vejo-me a ser projectado ao longo dos 12 meses que de novo me esperam e dos quais anseio pelos desafios que me aguardam. Neste efémero regresso ao futuro, dou conta que o melhor é viver um dia de cada vez, para que a catapulta do tempo seja uma arma a meu favor.