sábado, dezembro 09, 2006


Fazia algumas semanas que o Rui andava a convidar-me para viver a experiência de acompanhar numa lancha rápida uma regata, motivado por os seus filhos, ainda adolescentes se dedicarem a este desporto radical. Hoje pouco depois das 11h cheguei à Marina de Cascais onde tínhamos combinado nos encontrar e à distância de um telefonema, vejo chegar pouco depois o meu amigo à cabeça da embarcação, num salto tosco junto-me à equipa que passou a ser de quatro. Rapidamente entramos pelo mar a dentro e juntamo-nos aos muitos participantes desta regata. A primeira sensação de ver terra de mar a bordo de uma lancha é agradável, mas assistir à linha do horizonte repleta de pequenos veladores é de uma beleza cheia de muito dinamismo e cor! Sem aviso começa a chover granizo, percebi de imediato que tinha vindo pouco preparado para um dia que antes de sair de casa já prometia meter água. O Rui procurou que me sentisse o mais confortável possível e despiu o seu blusão de cabedal do Exército para que eu pudesse cobrir a cabeça, só pensava eu tirar fotografias a todo aquele contraste de cores. Este baptismo não durou mais do que 10 minutos mas foi o suficiente para que ficasse tão encharcado como se tivesse caído ao mar. Fomos prosseguindo mar a dentro para assistir à largada da regata, o vento soprava o suficiente para que as vagas nos elevassem o suficiente para que os meus enjoos começassem. O Sol vencia um braço de ferro contra a nebulosidade que nos cobria e as cores evidenciavam-se naturalmente, não fosse os enjoos e tudo estava perfeito. Estava no seio de três lobos do mar que ora sentados ora de pé apoiavam os seus filhos ao passarem pelas bóias que descreviam o percurso que tinham de realizar. Começava a tomar a noção de que não estava no meu meio ambiente, o Rui procurou apoiar o meu estado de embriaguez náutica sem lhe dar mais importância do que esta merecia, para que a minha parte psicológica não cedesse. Porém o gregório aconteceu, bem lá do fundo e prolongadamente... toda a comitiva me apoio e suavizou este mal estar. Confesso que movi algum esforço por aguentar mas estava a ficar difícil! Tive a oportunidade de reparar que os participantes em média não deveriam ter mais do que 17 anos, sozinhos na sua barca à vela a dominar os desígnios da natureza, ao mais alto nível. O meu estômago ameaçava sair pela boca, não estava a conseguir controlar-me, quando surge mais uma frente fria. Chuva para todo, sem dó nem piedade, o mar estava verde escuro, intenso, agitado, mordaz. Uma vez mais o meu amigo Rui, fez juros à sua experiência e procurou minimizar os danos, naquele que se assumia como marinheiro de água doce. Pouco mais de uma hora no mar cedi à sova dos enjoos e do granizo. Pedi desculpa e solicitei que fosse levado para terra. Sem a mínima hesitação fui levado para o ponto de partida, no percurso o Rui precaveu-me de que iria ter alguma dificuldade em andar em terra firme, resultante do meu sentido de equilíbrio estar fortemente abalado. É surpreendente como o nosso organismo reage e defacto qualquer um que me visse dizia que eu tinha abusado do álcool! Rumei a casa em busca do calor do chuveiro, o mau estar só foi apaziguado após um valente almoço e enquanto o degustava, sorria como forma de agradecimento pelo cavalheirismo que tinham tido para comigo e a experiência que me foi proporcionada.