
É fascinante localizarmos um determinado momento, onde tivemos de uma forma voluntária ou não de tomar decisões e hoje no presente sem nos comprometer, avaliar o que poderia ter resultado se naquele ínfimo segundo em que viramos à direita tivéssemos dado uma guinado no volante e contrariando a razão nos deixássemos levar pelo instinto.
Aos poucos surgiram bem por cima de nós algumas nuvens que fizeram lembrar, que o Outono desembarcou na Gare do Oriente a semana passada e brindou-nos com uma valente chuvada e mesmo assim a temperatura média estava acima do previsto para esta altura do ano. Algo me diz no que observo que o Outono só não nos passa despercebido, porque os vitrinistas carregam nos tons castanho e verde musgo, chamando à atenção dos transeuntes de que está na altura de trocar o seu guarda roupa.
O Outono traz consigo o encanto no processo de nudez das arvores, os primeiros toros na lareira, as castanhas assadas e a jeropiga. O cobertor por cima do sofá e a procura do calor do parceiro dá-se com mais espontaneidade, agora que as noites começam a dissipar o calor. É igualmente com a chegada do Outono que a minha Avó fazia anos. Este se tivesse entre nós seriam 85 anos. Para ela um grande e prolongado abraço de muito saudade, ela que me ensinou a agarrar o volante em momentos de duvida e a tirar partido da singularidade de cada momento.
Sei que um dia irei estar na posse de um bilhete só de ida, será numa noite como esta, sobre o azul nocturno e na presença de algumas nuvens que irei subir os degraus da maquina que me vai levar ao encontro daqueles que faz tempo partiram, numa altura em que iria começar a aprender o que de melhor eles tinham para me transmitir, exactamente no momento em que a minha maturidade me o permitiria. Apesar da certeza que tudo isto encerra, não tenho pressa.
É importante que tenhamos presente, que não necessitamos da ausência de alguém de quem gostamos, para que saibamos a importância que ela tem para nós. Sempre vivi com este predicado.
<< Home