terça-feira, setembro 26, 2006

Um destes dias enquanto jantava com uns amigos em sua casa, num terraço coberto pelo azul nocturno do céu, soprava uma leve brisa vinda do mar, ali tão perto. A mesa bem composta como é seu apanágio e motivado por estarmos a abordar situações vividas vai para 20 anos, vi-me num cruzamento sem sinalização e onde a regra da direita não tem lugar, quando falamos de fazer opções sobre a nossa vida.
É fascinante localizarmos um determinado momento, onde tivemos de uma forma voluntária ou não de tomar decisões e hoje no presente sem nos comprometer, avaliar o que poderia ter resultado se naquele ínfimo segundo em que viramos à direita tivéssemos dado uma guinado no volante e contrariando a razão nos deixássemos levar pelo instinto.
Aos poucos surgiram bem por cima de nós algumas nuvens que fizeram lembrar, que o Outono desembarcou na Gare do Oriente a semana passada e brindou-nos com uma valente chuvada e mesmo assim a temperatura média estava acima do previsto para esta altura do ano. Algo me diz no que observo que o Outono só não nos passa despercebido, porque os vitrinistas carregam nos tons castanho e verde musgo, chamando à atenção dos transeuntes de que está na altura de trocar o seu guarda roupa.
O Outono traz consigo o encanto no processo de nudez das arvores, os primeiros toros na lareira, as castanhas assadas e a jeropiga. O cobertor por cima do sofá e a procura do calor do parceiro dá-se com mais espontaneidade, agora que as noites começam a dissipar o calor. É igualmente com a chegada do Outono que a minha Avó fazia anos. Este se tivesse entre nós seriam 85 anos. Para ela um grande e prolongado abraço de muito saudade, ela que me ensinou a agarrar o volante em momentos de duvida e a tirar partido da singularidade de cada momento.
Sei que um dia irei estar na posse de um bilhete só de ida, será numa noite como esta, sobre o azul nocturno e na presença de algumas nuvens que irei subir os degraus da maquina que me vai levar ao encontro daqueles que faz tempo partiram, numa altura em que iria começar a aprender o que de melhor eles tinham para me transmitir, exactamente no momento em que a minha maturidade me o permitiria. Apesar da certeza que tudo isto encerra, não tenho pressa.
É importante que tenhamos presente, que não necessitamos da ausência de alguém de quem gostamos, para que saibamos a importância que ela tem para nós. Sempre vivi com este predicado.